A fumaça das queimadas toma Brasília — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/25/08/2024 RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
A fumaça das queimadas toma Brasília — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/25/08/2024
GERADO EM: 06/05/2025 - 00:08
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O aquecimento global não é apenas uma estatística: já é sentido nas prateleiras do mercado e nas UTIs dos hospitais. Ele reorganiza ecossistemas,amplia desigualdades e impõe crescentes desafios aos serviços de saúde em todo o mundo. Ondas de calor extremo,inundações e incêndios florestais estão associados ao aumento de doenças respiratórias,cardiovasculares e infecciosas. A crise climática é também uma crise sanitária.
A pandemia de Covid-19 foi um grande alerta. A destruição de hábitats naturais favoreceu o salto de hospedeiros animais para humanos. A insegurança alimentar também está na mesa. Secas severas e eventos extremos ameaçam safras e reduzem o acesso à água potável em diferentes partes do mundo. Resultado? Aumento da desnutrição,migrações forçadas e novas tensões geopolíticas. O conceito de saúde planetária emerge como um novo paradigma: nossa saúde depende da saúde dos nossos ecossistemas.
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Nesse contexto,um desafio central e silencioso se impõe: a crise climática é,antes de tudo,uma crise de comunicação. Dados científicos,por si só,não são capazes de mobilizar. Relatar o impacto do clima na saúde é uma das formas mais eficazes de despertar atitudes e respostas. Precisamos contar histórias,traduzir riscos em cuidados e aproveitar a confiança da sociedade em médicos e cientistas. Como na luta contra o cigarro,precisamos de um convencimento positivo. O desafio não é apenas técnico ou político,mas também narrativo. Se o medo paralisa,o futuro precisa inspirar.
No entanto esse futuro vai nos exigir mais que dados e previsões catastróficas. Demandará uma abordagem integrada e colaborativa entre saúde,meio ambiente e desenvolvimento já agora,no presente. O Brasil,casa de alguns dos maiores cientistas climáticos do mundo e anfitrião da próxima cúpula do clima (COP30),tem papel de protagonista diante desse desafio. Para além das mesas das conferências,a agenda precisa estar na cabeça de quem tem a caneta na mão. É aqui que entra a diplomacia científica.
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Num mundo aquecido e polarizado,a cooperação internacional é imprescindível. Nenhum país pode enfrentar sozinho os desafios de um planeta em transformação,afinal poluição atmosférica,pandemias e desastres ambientais não respeitam fronteiras. Precisamos de novos pactos de governança global baseados na diplomacia em saúde,um novo paradigma que se impõe aos novos acordos internacionais de cooperação e investimentos em saúde e ciência.
Por fim,a crise climática é também indissociável de disputas por equidade e legitimidade: dos países que abrigam grandes florestas,dos povos originários,das populações mais vulneráveis. Sem justiça social,ecologia vira paisagismo,como disse Chico Mendes. Na busca por justiça social e climática,não há espaço para o reducionismo de escolhas binárias ou antigas utopias. A solução passa por transições inovadoras e inclusivas,mas também financeiramente factíveis. A China,mesmo sendo grande emissor de carbono,tem liderado o barateamento das energias renováveis. O Texas,segundo maior investidor em renováveis nos Estados Unidos,é também o maior produtor de petróleo. A sustentabilidade é uma oportunidade de otimizarmos custos,sermos mais eficientes e — ousamos aqui dizer — justos.
Já extrapolamos os limites propostos há dez anos pelo Acordo de Paris,então o que podemos esperar da COP30? A ciência nos antecipa previsões alarmantes,mas também nos abre,a cada dia,novas fronteiras de futuro com a inovação,a digitalização e a inteligência artificial. Temos hoje o dever de repensar,sem pessimismos,nossas estratégias de comunicação em saúde e ciência à luz das novas formas de diplomacia. É chegada a hora de uma nova coragem: coletiva,informada e — ainda assim — baseada em esperança.
*Gustavo Rosa Gameiro e Ari Araújo são médicos e membros do Programa de Jovens Líderes da Academia Nacional de Medicina
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