Às vésperas do conclave, cardeais debatem conflitos dentro e fora da Igreja

O cardeal sérvio Ladislav Nemet caminha na Via della Conciliazione,em Roma,após a congregação em que os prelados discutiram questões relativas ao conclave que começa amanhã — Foto: AFP

No penúltimo dia de reuniões pré-conclave,os cardeais discutiram os conflitos que rondam o próximo Papa. Dentro e fora do Vaticano. Na segunda-feira de manhã,os eleitores que escolherão o novo Pontífice debateram como enfrentar as divisões na Igreja. À tarde,a pauta foi dominada pelas guerras e pela crise migratória. Em meio às conversas,circularam em Roma,dando rápidas entrevistas e até interagindo com fiéis e curiosos.

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Os cardeais manifestaram “forte preocupação” com as divisões internas da Igreja,informou o porta-voz da Santa Sé. Os embates marcaram o pontificado de Francisco,que enfrentou oposição aberta da ala ultraconservadora do clero.

Em 2016,quatro cardeais se rebelaram publicamente depois que o Papa defendeu que a Igreja fosse mais tolerante em temas relacionados à família. Francisco havia encorajado os sacerdotes a terem mais compaixão com divorciados que voltaram a se casar.

Resistência a Francisco

A orientação irritou os tradicionalistas,que acusaram o Pontífice de provocar “grave desorientação e desorientação entre os fiéis”. Dos quatro signatários da carta,só o americano Raymond Burke,de 76 anos,participará do conclave.

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Mais tarde,em 2019,cardeais alemães questionaram o documento preparatório para o Sínodo da Amazônia,iniciativa do Papa para discutir a crise climática. O cardeal Gerhard Müller acusou o texto de adotar concepções próximas ao marxismo e incompatíveis com a doutrina da Igreja. Ele tem 77 anos e estará na Capela Sistina a partir de amanhã.

Na segunda reunião de ontem,os cardeais discutiram o desafio de lidar com conflitos externos. Cardeais que vivem em áreas conflagradas defenderam a atuação da Igreja como mediadora em negociações de paz. Nos últimos anos,Francisco fez apelos insistentes pelo fim das guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Em 2019,numa das cenas mais marcantes de seu pontificado,ele beijou os pés de três líderes do Sudão do Sul que haviam assinado um acordo de pacificação.

Além de discursar,o Papa fez várias doações para ajudar vítimas de conflitos. No domingo,o Vaticano informou que um de seus papamóveis será transformado numa clínica de saúde móvel para atender crianças em Gaza. Francisco voltou a pedir um cessar-fogo na região em sua última aparição pública,um dia antes de morrer.

Ao discutir a crise migratória,cardeais defenderam que a Igreja continue a apoiar pessoas obrigadas a se deslocar. O tema também foi central no pontificado de Francisco. Na primeira viagem após ser eleito,em 2013,ele visitou a ilha italiana de Lampedusa,uma das principais portas de entrada de imigrantes na Europa. A imagem do Papa rezando pelos mortos em naufrágios no Mar Mediterrâneo correu o mundo e jogou luz sobre o drama humanitário. Na viagem,ele protestou contra a “globalização da indiferença” em relação aos mais vulneráveis.

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Últimos preparativos

A dois dias do início do conclave,o Vaticano acelerou os últimos preparativos para a votação. Cerca de cem funcionários que prestarão assistência aos cardeais no período de isolamento foram obrigados a prestar juramento de silêncio. O camerlengo Kevin Farrell sorteou os quartos que cada cardeal ocupará até o fim da votação. Os eleitores ficarão espalhados em dois prédios: Santa Marta,onde vivia Francisco,e Santa Marta Antiga,no mesmo conjunto.

Para alegria dos fotógrafos,operários usaram um guindaste para instalar as cortinas no balcão central da Basílica de São Pedro,cenário da primeira aparição do novo Papa. Foram instalados bloqueadores para cortar o sinal telefônico dentro dos muros do Vaticano.

Para tranquilizar turistas e fiéis que farão vigília à espera do anúncio,a Santa Sé informou que celulares funcionarão normalmente na Praça de São Pedro. Quando o cardeal protodiácono Dominique Mamberti disser a tradicional frase “Habemus papam” (Temos papa,em latim),milhares de fotos e vídeos da fumaça branca já estarão nas redes sociais.